domingo, 14 de agosto de 2011

Débora Guiot por inteiro numa entrevista exclusiva - Deborah Guiot in an exclusive interview

Débora Guiot
Débora Guiot - produtora musical e jornalista, fala com exclusividade para o Blog Música no Detalhe.

Débora como é feita a produção de um músico indepente/alternativo como o Cayê Milfont e o produtor lucra em trabalhar para um músico independente?
Débora Guiot – Muito pertinente sua pergunta, porque costuma-se confundir produção com divulgação e agenciamento. Apesar do Cayê já possuir uma carreira sólida e experiente, quando começamos a trabalhar juntos, parti praticamente do zero em termos de produção. Ou seja, foi criada uma marca de identificação de todo o trabalho dele, produzidas imagens que pudessem atender às mais diversas demandas, desenvolvidos papers e apresentações de projetos e shows nos mais variados formatos de arquivos. Enfim...toda a comunicação que um profissional independente precisa ter.  Também o acompanho em todas as apresentações, mesmo na Europa, auxilio na definição de repertório, escolha de figurino e maquiagem, verifico a passagem de som - quando não sou eu mesma que estou na técnica – ajudo a carregar as caixas de som - quando é preciso, levo o tradicional chazinho de romã com cramberries e mel para aquecer a voz. Quase sempre, a não ser quando se trata de festivais com noite de gala, vou de “uniforme”, composto de blusa com a marca dele e do novo CD, e blaser com a marca Cayê Milfont na lapela. Os projetos para participação em editais e captação de patrocínio igualmente são elaborados por mim, assim como a criação de rótulo e capa de CD, preparação dos materiais de divulgação e a própria assessoria de imprensa.
A minha ligação com o Cayê é mais pessoal do que qualquer outra coisa e, por isso, jamais visou lucro. No entanto, pela experiência adquirida nesses três anos e meio na sua produção, entendo que a atividade com músico independente pode dar lucro, na medida em que se consegue emplacar algum grande projeto patrocinado. Do contrário, numa visão meramente mercantilista, é muita ralação para no final ter que dividir o pouco que sobra com os músicos – que afinal são os protagonistas de todo o processo. Quem se aventura, como eu, nessa jornada, tem primeiro que ter a consciência de que sua atuação é importante, porém, coadjuvante; ter o comprometimento emocional de identificação com o artista que está produzindo e seu trabalho; e, ter alma e fé naquilo que faz. 

Vimos, numa pesquisa de internet que fizeste o roteiro do show do Cayê Milfont em 2009. Como é feita a escolha das músicas para um roteiro de um show. É necessário o roteirista conhecer a fundo o músico. Relate sua experiência nesta área para auxiliar músicos e produtores, ou roteiristas, que estejam lendo sua entrevista?

Débora Guiot – O espetáculo em questão foi o Cayê Milfont canta Taiguara. Uma idéia antiga de Cayê, que teve uma história pessoal e profissional com Taiguara. E que veio de encontro ao meu fascínio pelo ídolo ativista político dos anos 70, ao lado de quem estive algumas vezes em movimentos no Rio de Janeiro, e cujas canções embalavam nossas noites de luta contra o regime autoritário imposto. Assim, decidimos que era já passada a hora de fazermos uma justa homenagem a esse ícone de nossa MPB e da história de nosso País, tão esquecido nos dias de hoje. Começamos pela escolha das músicas que comporiam o repertório. Interpretar Taiguara não é fácil...quem conhece, bem sabe o que digo, e Cayê, com sua voz muito semelhante à dele, saiu-se brilhantemente nesta etapa, dando liberdade para o passeio pela obra. Os arranjos, finamente elaborados com um toque contemporâneo, ficaram a cargo do maestro José Cabrera a quem também cabe a execução dos teclados em todos os espetáculos. A participação de Jorge Macarrão na percussão também foi fundamental para que os sons ficassem mais encorpados, exprimindo e incorporando a experiência de Taiguara pela África, durante seu auto-exílio.
Mas, até então, a apresentação era apenas uma sucessão de músicas, com algumas intervenções faladas de Cayê. E eis que surge a oportunidade de levarmos o espetáculo para o Teatro Casa da Gávea, no Rio, e em Petrópolis. Os ensaios intensificaram-se e eu participava de todos, com a cabeça fervilhando de idéias que passei a colocar em prática.  Primeiro dividimos o espetáculo em três momentos da vida de Taiguara – o intérprete, o compositor e de volta ao Brasil – e incorporamos, no último movimento, composições de Cayê Milfont.
Passei então a uma pesquisa documental e de imagens, inclusive recebendo colaborações de documentos e fotos de pessoas que estiveram próximas a Taiguara, como a Solanginha – que foi secretária dele e deixou um acervo com Cayê – e a Margarida Valente – que produziu algumas apresentações do artista. A partir de todo esse material, montei o roteiro, que é composto de textos, que permeiam a seqüência de canções – escritos a quatro mãos por mim e por Cayê, e de um vídeo que traz inclusive áudios originais de Taiguara e acompanha toda a apresentação, funcionando também como cenário. Também conduzimos a direção de palco de Cayê, com o auxílio experiente do coreógrafo Rinaldo Genes.
Mas, sim, o sucesso do formato final do espetáculo dependeu, fundamentalmente, do cuidado com a importância da obra e com a elegância no seu resgate, e da perfeita sintonia entre mim, Cayê Milfont, José Cabrera e Jorge Macarrão, a partir da energia emanada por Taiguara.  É uma apresentação que definitivamente atinge o seu objetivo: leva a profusão melódica aos corações do público e, principalmente, dá muito prazer a seus integrantes – é sempre uma grande felicidade para os quatro realizar o espetáculo.

Agora, mudando um pouco de assunto, és jornalista de economia, o que uma jornalista de economia viu de similar entre sua profissão e a atividade de produção cultural?

Débora Guiot – Ainda atuo esporadicamente como jornalista de economia mas, desde 1996, minha principal atividade concentra-se na minha empresa de comunicação, com atendimento a clientes institucionais. Jamais imaginei atuar nessa área de produção cultural até conhecer o Cayê Milfont. Mas, não foi difícil perceber o quanto a comunicação, em suas diversas faces, e as TICs - tecnologias da informação e comunicação - podiam interagir com a atividade artística. Claro que não posso negar que sempre tive ligação com as artes, sou formada pelo Conservatório Brasileiro de Música, fiz diversos cursos de técnicas em pintura de telas e a paixão pela literatura fundamentou minha vida. 

E como jornalista de economia, o governo do Brasil (Dilma) e do Distrito Federal (Agnelo) têm programas específicos para melhorar o lado economíco do músico brasileiro e brasiliense. Não falo apenas de ajuda financeira, mas de programas que a longo prazo possam fazer uma revolução na arte e cultura brasileira pois, toda a cadeia de divulgação, produção e até criação cultural depende de dinheiro. Se o músico não pode comprar o seu instrumento como vai produzir. Disseque esta questão?

Débora Guiot – Questão difícil de ser dissecada, até porque no nosso País já virou cadáver mesmo. Os dois governos mal começaram, qualquer diagnóstico é precipitado. Ainda estão na fase do tentando tomar pé da coisa. Ou seja, o maior mal, na minha opinião e para todas as áreas é a descontinuidade provocada pelos sucessivos governos e seus arranjos políticos. Cada um que chega quer reinventar a roda. Logo, difícil é ter programas de longo prazo.   O mais interessante é que especialmente nessa área da cultura, mudam as cúpulas, mudam programas, no âmbito federal até tornaram-se mais democráticos e diversificados, mas permanecem dinossauros sentados embaixo, imprimindo a mesma política há no mínimo 10 anos. Os recursos continuam irrisórios, tanto regionais quanto nacionais, não dá para atender a demanda. E com eventos de porte mundial previstos para o País, se o turismo já meteu a mão numa bolada, mais ainda meterá. Turismo passa por arte e cultura, claro, só que lamentavelmente sem o menor critério.
Medidas simples poderiam ser adotadas como política perene para toda a cadeia como, por exemplo, a de incentivo para a aquisição de instrumentos artísticos.  Não só instrumentos musicais, mas tintas, pincéis, telas, material de produção cinematográfica, enfim, tudo que envolve a produção artística. Com relação a instrumentos musicais há três projetos tramitando no Congresso: dois no Senado e um na Câmara. Nenhum deles de iniciativa e acompanhamento do Ministério da Cultura, como deveria ser. O PLS 345/2006, do senador Cristóvam Buarque (PDT/DF), concede isenção do Imposto de Importação, da Contribuição para os Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público incidentes na Importação de Produtos Estrangeiros ou Serviços (PIS/PASEP-Importação) e da Contribuição Social para o Financiamento da Seguridade Social devida pelo Importador de Bens Estrangeiros ou Serviços do Exterior (COFINS-Importação) aos instrumentos musicais, suas partes e acessórios. Atualmente está na Comissão de Assuntos Econômicos. Na Câmara, o PL 3623/2008 permanece parado na Comissão de Educação e Cultura, de autoria do deputado Valdir Colatto (PMDB/SC), e também institui isenção para operações de compra e venda de instrumentos musicais para o Brasil.  
Ainda no Senado, e para mim o mais descomplicado e democrático, há o PLS 86 de 2004, do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB/RR), que dispõe sobre a isenção do Imposto sobre Importação incidente sobre instrumentos musicais adquiridos por músicos, na Comissão de Assuntos Econômicos aguardando designação de relator. Lembro que à época em que iniciei no jornalismo tínhamos desconto para aquisição de máquinas de escrever, instrumento essencial à nossa atividade. E se não me engano professores têm desconto na aquisição de livros didáticos. Mas aí o PLS 86, que parecia o mais descomplicado e de atendimento à ponta, principalmente com advento da internet e das compras online, vai esbarrar numa questão: a exigência de registro na OMB para o músico.  A recente decisão da ilustre ministra diz respeito à não exigibilidade de registro para o exercício da profissão, até onde entendi. Para comprar instrumento musical com isenção há de haver alguma comprovação. E qualquer que seja o relator designado, seria bom contar com o auxílio dos músicos na questão e mais, procurar estender o incentivo para descontos também na compra de equipamentos nacionais. Imaginem o quanto uma simples medida dessa poderia contribuir para o desenvolvimento e disseminação da cultura da música. Aí sim, caberia aos órgãos da cultura, em todos os âmbitos, garantir o seu cumprimento, como parte de uma política nacional.
Na verdade, o imbróglio do registro de músico vai se estender.  Eu sempre defendi a idéia de uma lei que garantisse o direito à meia entrada em espetáculos artísticos, musicais, circenses, teatrais e cinemas para os artistas. Estudante tem direito, professores têm direito, idosos têm direito e os próprios artistas não têm. Mas, aí é mais um direito que necessita de comprovação para ser usufruído.

Agora falando da mulher. Nestes tempos onde a mulher é o tema, é a presidente, o “x y z”, ela tem discriminado, e discriminada ou nada disso, tá tudo certo. Dê sua opinião sobre a mulher brasileira dentro de todo um contexto?

Débora Guiot – Vou dar a minha opinião dentro do contexto da mulher, que é o único que eu conheço. Se já fui homem, não me lembro...rsrsrs mas, me lembro de ter que colocar “o pau na mesa” toda vez que tenho que participar de alguma negociação profissional, especialmente das que envolvem dinheiro. A mulher, sem dúvida, ainda sofre discriminação, em todos os âmbitos. Profissionalmente as estatísticas comprovam que, no geral, nossa remuneração é menor que a do homem, mesmo em funções idênticas. Mesmo no âmbito doméstico, toda vez que preciso de um serviço, como de um encanador, por exemplo, já sinto o olhar tipo: ah....é mulher, não entende nada, vou meter a faca. E é impressionante...já fiz essa experiência. Pedi para o meu irmão chamar o mesmo encanador na casa dele, para executar o mesmo serviço, e o preço quase caiu pela metade. Pior...minha primeira formação é em engenharia. Ou seja, qualquer que seja o problema para o qual eu demande o encanador, com certeza eu entendo mais dele do que o meu irmão, que é economista e jamais conseguiu trocar uma lâmpada da casa dele com sucesso. Isso sem falar em mecânico de carro, enfim, em todo um universo que ainda é notadamente masculino.
Já avançamos muito, mas quando vejo meninas rebolando em baile funk no qual são chamadas de “cachorras”, perco totalmente a esperança. Mulheres da minha geração passamos pelo radicalismo imperioso de Betty Friedan (anos 60), para entramos no women's lib (anos 70), que tratava da condição de opressão pela cultura masculina e de projetar estratégias capazes de proporcionar às mulheres uma liberação integral, que incluísse também o corpo e os desejos. E agora me preocupa a geração da minha filha.  Outro dia, conversando com uma amiga, questionamos isso: nós, que lutamos pelo empoderamento da mulher, aonde erramos? Juro...se eu algum dia pegar minha filha em baile funk, sendo chamada de “cachorra”, eu tiro debaixo de porrada. Como aceitar isso? O resultado é que se no campo profissional a presença e crescimento da mulher não têm mais volta - as economias mundiais exigem isso e ninguém mais questiona - no arcabouço psicológico e psicossocial houve retrocesso. Basta ver os índices de violência contra a mulher que, além de permanecerem difíceis de serem conseguidos, por todos os constrangimentos que as mulheres ainda preferem não passar, aliados ao medo, não caem. 

E você faz milagre na sua família enquanto produtora e jornalista, sua família te respeita, você é valorizada ou o ditado “santo de casa não faz milagre” existe na sua visão?

Débora Guiot – Na minha casa faço milagres sim...rsrsrs  Minha filha participa de quase todos os meus trabalhos, com idéias, criações e sugestões. Foi educada na mais autêntica linha dura do jornalismo - é leitora voraz, escreve com retidão e clareza, e estudou línguas - e na pureza da expressão artística. O pai, saudoso jornalista Roberto Fecury, deitava com ela, aos dois anos, no chão da sala, para escutar Gershwin e apreciar os catálogos do Louvre.  Também são vários os projetos profissionais que desenvolvo com meu irmão, que nessas áreas só confia se eu estiver à frente. E sou a produtora executiva do Cayê.   

E o ECAD, o fechamento de bares em Brasília pelo Ibram, a Ordem dos Músicos, o Sindicato dos Músicos, dê sua opinião sobre estas questões?

Débora Guiot – Assuntos absolutamente diversos...rsrsrs Por partes, então. Quanto ao ECAD, não funciona. E a exigência das Sociedades é um descalabro. A revisão da LDA entrou finalmente em discussão em Grupo Interministerial, para que um ante-projeto seja enviado à Casa Civil, que por sua vez deverá enviar uma proposta de Projeto de Lei ao Congresso. A sociedade civil organizada tem procurado participar na elaboração do APL, num processo conduzido pelo MinC até de forma bem democrática. Eu consegui dar algumas sugestões, através da Rede pela Reforma da Lei de Direitos Autorais. E acho que todos os envolvidos, e que de alguma forma sofrerão impactos pela sua aplicabilidade, sobretudo os compositores, deveriam participar mais ativamente. Há setores poderosíssimos e interessadíssimos na questão, e que vão continuar levando vantagem caso os protagonistas – os autores – não se façam ouvir suficientemente. 
Sobre o fechamento de bares pelo Ibram. Acho que todas as cidades vivem essas ondas: as leis existem, mas a fiscalização pelo seu cumprimento vai e vem. Na minha opinião, todas as leis estão aí para serem cumpridas. O caso específico do fechamento de bares por causa, inclusive, da música ao vivo, deve considerar vários aspectos. E aqui vou tentar apenas enumerar para, quem sabe, poder servir de base para uma discussão mais elaborada sobre o assunto por grupos organizados, não só de músicos, como também de proprietários de estabelecimentos, de trabalhadores desses estabelecimentos, enfim, toda uma rede de gente envolvida no processo, que inclui cidadãos.
. Brasília, embora criada pelo presidente bossa nova, considerou, em sua concepção urbanística, a possibilidade de os pais escutarem os filhos quando estivessem brincando nas áreas de lazer dos blocos residenciais, todos construídos sobre pilotis. As áreas destinadas ao comércio, serviços e lazer, que serviriam às quadras habitacionais, foram construídas ao lado de cada uma delas.  Todos os espaços são amplos, abertos, proporcionando a sensação de vastidão. Ou seja, a acústica é dos infernos....todo mundo escuta tudo de tudo que é lugar. Hoje, eu moro no Sudoeste, e escuto de camarote todos os grandes eventos realizados ao lado do estádio, no eixo, como se estivessem na minha sala.  
. Os cidadãos de Brasília é claro que têm direito ao sossego e à tranqüilidade das boas noites de sono. No entanto, também precisam considerar o fato de viverem numa cidade atípica, com as características descritas acima. Se Brasília é tão maravilhosa por seus espaços, ela também reverbera. E aqui não dão para serem aplicados pura e simplesmente os mesmos níveis aceitáveis de ruído de quaisquer outras cidades. Aqui, você falou no estacionamento do bloco, toda a quadra escuta.  No Rio de Janeiro, por exemplo, quem mora de frente para as ruas, se desespera com as freadas dos ônibus nas paradas, numa cidade em que o transporte público borbulha noite e dia.
. Todas as cidades e seus habitantes têm direito à expressão, inclusive artística, plena, indefinida, por todos os cantos e principalmente à noite...aos locais de encontros, de trocas de idéias, de bate-papos para jogar conversa fora..faz parte do desenvolvimento interpessoal que promove as sociedades. E não há como determinar locais específicos para que isso ocorra. Se Brasília foi planejada no fim dos anos 50, hoje quem dá o tom somos nós que aqui vivemos. 
. Os estabelecimentos, do tipo bares e afins, devem, sim, investir em tratamento acústico adequado que possibilite não só a expressão musical, como o próprio conforto dos freqüentadores. Não digo enfurnar todos em porões, ou em locais totalmente fechados. Esses têm a vantagem de poder estender o horário das apresentações ao vivo para além das 22 ou 23 horas e receber estilos variados. E também não estou me referindo às boates, essas, sim, com imperiosa necessidade de isolamento acústico. Mas, é importante aquela sensação de cidade com expressão livre, e medidas simples podem ser adotadas, como adequar o tipo de música que será executada ao vivo ao tipo de estabelecimento. Com toda a certeza o nível de ruído provocado pela concentração de pessoas, conversando nos mais variados tons de vozes, nos bares, é muito maior do que o emitido pelas notas musicais de um show de bossa nova, por exemplo.  Na medida em que a música ao vivo se mescla ao ambiente, menos pessoas falam. É claro que nem todas, porque há aquelas cuja necessidade é falar. Mas, diminui muito o ruído das vozes. E é claro que em ambientes mais abertos e próximos de áreas residenciais não dá pra colocar show de rock ou de blues, com as guitarras gritando, ou de pagode, axé, enfim, estilos que exigem presença forte de percussão.
. E a consideração dos profissionais – trabalhadores envolvidos, é essencial tanto na elaboração e aprovação da lei, quanto na sua aplicação. No fim das contas, se a cidade perde com a ameaça à música ao vivo e a população idem, quem mais perde com tudo isso são os músicos, que precisam de locais para exercer sua profissão e ganhar o seu sustento, e os que trabalham nos estabelecimentos, especialmente os garçons. Ano passado foram feitas duas audiências públicas na CLDF para a discussão do tema, ambas sem resultados concretos ou seguimento de ações. Afinal, tratar do assunto não é nem um pouco conveniente do ponto de vista eleitoral. Mas, uma solução sensata sobre o tema tem que ser encontrada. A proibição, que agora tornou-se mais acirrada aqui em Brasília, já vem afetando o segmento em cidades como São Sebastião e Vicente Pires desde 2010.
Com relação à OMB e ao Sindicato dos Músicos do DF não vou me arrogar a dar nenhuma opinião, por não ser da classe. Tenho cá minhas convicções, até fruto da minha atuação profissional como produtora. Desse último, o sindicato, acompanhei o escândalo de subtração de erário, inclusive público, promovido pelos dirigentes. Mas, meu respeito pelos músicos, que são os que compõem essa categoria, é maior. Só deixo um lembrete, e agora como economista: hoje, a informalidade não leva ninguém a lugar nenhum.

Alguma coisa ficou pendente que gostaria de colocar nesta entrevista?

Débora Guiot -  Não...essa foi uma verdadeira sabatina...rsrsrsrsrs Obrigada pelo convite para a entrevista e parabéns pelas perguntas, todas muito pertinentes. Sucesso sempre ao blog, espaços para a expressão de idéias são muito importantes. E, usando uma frase de Taiguara, me despeço: “A Cultura é uma arma de libertação!”.


Anand Rao
Editor do Blog Música no Detalhe

English Version by Google Translate

Deborah Guiot - music producer and journalist, speaks exclusively to the Music Blog in detail.

Deborah how is the production of a musician indepent / alternatives such as Caye Milfont and producer profits to work for an independent musician?

Deborah Guiot - your very pertinent question, because it is usually confused with the production and dissemination agency. Although Caye already have a solid career and experienced when we started working together, participating virtually from scratch in terms of production. That is, a brand was created to identify all the work it produced images that could meet the most diverse demands, developed papers and project presentations and shows in various file formats. Anyway ... all the communication that an independent professional must have. Also accompany all presentations, even in Europe, help to define the repertoire, choice of costume and makeup, her sound check - when I'm not I'm in the same technique - helped carry the speakers - when necessary, take some tea the traditional Cranberries with pomegranate and honey to warm up the voice. Almost always, except when it comes to festivals with the gala, go to "uniform", consisting of the blouse with him and the brand new CD, and Blasi Caye Milfont branded on their lapels. The projects for participation in bidding and the raising of sponsorship are also prepared by me as well as the creation of the label and CD cover, preparation of publicity materials and his own press office.
My connection with the Caye is more personal than anything else and, therefore, never sought to profit. However, the experience gained in these three and a half years in production, I understand that the activity with independent musician can make money, to the extent that it can topple a large project sponsored. Otherwise, in a purely mercantilist, is very grating to the end have to share what little is left to the musicians - who after all are the protagonists of the process. Who dares, like me, this journey, you must first be aware that their work is important, however, adjuvant, have the emotional commitment of identification with the artist who is producing and his work, and have faith in soul and it does.

We saw an Internet research you have done the script for the show's Caye Milfont in 2009. How is the choice of songs for a script for a show. You need to know the background writer musician. Relate your experience in this area to help musicians and producers, or writers, who are reading your interview?

Deborah Guiot - The show in question was the Caye Milfont Taiguara sings. An old idea Caye, who had a personal and professional history with Taiguara. And that came against my fascination with political activist idol of 70 years, alongside whom I sometimes in movements in Rio de Janeiro, and whose songs rocked our nights of struggle against the authoritarian regime imposed. So we decided it was well past time to do a tribute to this icon of our MPB and the history of our country, so forgotten today. We begin by choosing the songs that make up the repertoire. Interpreting Taiguara is not easy ... Who knows, you know what I say, and Caye, his voice very similar to it, did brilliantly at this stage, giving freedom to the ride's construction. The arrangements, finely prepared with a contemporary twist, were in charge of the conductor José Cabrera who also fits the execution of the keyboards at all shows. The participation of the Jorge Pasta percussion was also critical to stay that sounds more full-bodied, expressing and incorporating the experience of Taiguara Africa, during his self-imposed exile.But until then, the presentation was just a succession of songs, with some interventions spoken Caye. And here comes the opportunity to bring the show to the Opera House Gavea in Rio and Petropolis. The testing intensified and I participated in all, with his head buzzing with ideas that I put into practice. First divide the show three times in the life of Taiguara - artist, composer and back to Brazil - and incorporated in the final movement, Caye Milfont compositions.
When I began to research and document images, including receiving contributions from documents and photos of people who were close to Taiguara like Solanginha - who was his secretary and left a collection of Caye - Valente and Margaret - who produced some presentations of the artist . From all this material, I made the script, which is composed of texts that constitute the sequence of songs - written by four hands by myself and Caye, a video and audio features including original Taiguara and accompanies the entire presentation that serves as a backdrop. We also conducted the stage direction of Caye, with the help of experienced choreographer Gene Rinaldo.But yes, the success of the final format of the show depended fundamentally care about the importance of work and with the elegance of his rescue, and the perfect harmony between me Milfont Caye, Jose Cabrera and Jorge Pasta, from the energy emanating from Taiguara. It is definitely a show that reaches its goal: the profusion melodic leads to the hearts of the public and, especially, gives much pleasure to its members - is always a great joy for the four make the show.

Now changing the subject somewhat, are journalists of the economy, which saw an economic journalist of his profession of similar activity and cultural production?

Deborah Guiot - Although I work sporadically economics but as a journalist since 1996, my main activity is concentrated in my communications company, with services to institutional clients. I never thought acting in this area of ​​cultural production to meet Milfont Caye. But it was not hard to see how the communication in its many faces, and ICT - information and communication technologies - could interact with the artistic activity. Of course we can not deny that always had links with the arts, I am formed by the Brazilian Conservatory of Music, did several courses in painting techniques screens passion for literature and grounded my life.
And as a journalist for the economy, the government of Brazil (Dilma) and the Federal District (Agnelo) have specific programs to improve the economics of the Brazilian musician and Brasilia. I speak not only of financial aid, but long-term programs that can make a revolution in Brazilian art and culture for the whole chain of disclosure, production and even cultural creation depends on money. If the musician can not buy your instrument as will produce. Dissect this issue?

Deborah Guiot - Issue difficult to be dissected, because in our country has become dead even. The two governments have barely begun, any diagnosis is precipitated. They are still at the stage of trying to take stock of things. That is, the greater evil, in my opinion and for all areas is the discontinuity caused by successive governments and their political arrangements. Everyone who comes wants to reinvent the wheel. So difficult is to have long-term programs. The interesting thing is that especially in the area of ​​culture, change the domes, change programs at the federal level to become more democratic and diverse, but dinosaurs remain seated below, printing the same policy for at least 10 years. The resources are still woefully inadequate, both regional and national, you can not meet demand. And with world-scale events planned for the country, tourism is already put his hand in a big pot, put himself further. Tourist passes for art and culture, of course, only sadly without any discretion.
Simple measures could be adopted as a policy lasting for the whole chain, for example, the incentive for the acquisition of artistic tools. Not only instruments but paints, brushes, canvas, film material, everything that involves artistic production. With regard to musical instruments is moving in Congress three projects: two in the Senate and one in the House. None of initiative and follow-up of the Ministry of Culture, as it should be. The PLS 345/2006, Senator Cristovam Buarque (PDT / DF), grant exemption from import tax, the Contribution Program for Social Integration and Training of Civil Servants Asset incidents on the import of foreign products or Services (PIS / PASEP-Import) and Social Contribution for Social Security Financing due from the importer Foreign Assets and Foreign Services (COFINS-Import) Musical instruments and parts and accessories. He is currently the Economic Affairs Committee. In the House, the bill still remains in the 3623/2008 Committee on Education and Culture, written by Deputy Valdir Colatto (PMDB / SC), and also establishing exemption for the purchase and sale of musical instruments to Brazil.
Also in the Senate, and for me the most uncomplicated and democratic, there is the PLS 86, 2004, Senator Mozarildo Cavalcanti (PTB / RR), which provides for exemption from import tax levied on musical instruments purchased by musicians in the Commission Economic Affairs awaiting appointment of a rapporteur. I remember the time when we had started in journalism discount for purchase of typewriters, essential tool for our business. And if I'm not mistaken teachers have discount on the purchase of textbooks. But then the PLS 86, who seemed the most hassle-free service to the point, especially with the advent of the Internet and online shopping, you'll run into one issue: the requirement of registration with the OMB for the musician. The recent decision of the illustrious minister regards the non-enforceability of record for the profession, as far as I understood. To buy musical instrument there is any exemption for proof. And whatever the designated rapporteur, it would be good to have the assistance of the musicians in question and more, the incentive to seek to extend discounts on the purchase of equipment also national. Imagine how a simple measure that could contribute to the development and dissemination of the music culture. So yes, it would be the bodies of culture, in all areas, ensure compliance, as part of a national policy.
In fact, the imbroglio of the record player will extend. I always defended the idea of ​​a law guaranteeing the right to half price in performing arts, music, circus, theatrical and movie theaters for artists. Student is entitled to have the right teachers, seniors are entitled, and the artists themselves do not. But there is another law that requires proof to be enjoyed.

Now speaking of the woman. In these times where the woman is the theme, is the president, "xyz", she has broken, and broken or anything, that's okay. Give your opinion on the Brazilian woman within a whole context?

Deborah Guiot - I'll give my opinion in the context of the woman who is the only one I know. If it was a man I do not remember ... rsrsrs but remember to put "the stick on the table" every time I have to participate in any trading professional, especially those involving money. The woman, no doubt, still suffer discrimination in all areas. Professionally statistics show that, overall, our pay is less than that of humans, even identical functions. Even in the home, every time I need a service like a plumber, for example, as I look like, oh .... a woman, do not understand anything, I'll get the knife. And it's amazing ... I did that experience. I asked my brother to call the same plumber to his house to perform the same service, and price almost halved. Worse ... My first training is in engineering. That is, whatever the problem for which I would demand the Plumber, of course I understand him better than my brother, who is an economist and was never able to change a light bulb in his house successfully. Not to mention car mechanic, finally, in a universe that is still mainly male.
We have come far, but when I see girls rolling around in baile funk in which they are called "bitches", I lose all hope. Women of my generation went through radical imperative of Betty Friedan (60) to enter the women's lib (70), which was the condition of oppression by the male culture and to design strategies to provide women with a release full, which includes For the body and desires. And now I'm worried about my daughter's generation. The other day, talking with a friend, this question: we, who fought for women's empowerment, where we go wrong? I swear ... if I ever get my daughter on baile funk, being called "bitch", I punch shot under. How to accept it? The result is that in the professional field presence and growth of women are no longer around - the world's economies require it and no one questions - the psychological and psychosocial framework there have been setbacks. Just look at the rates of violence against women that, and remain difficult to obtain, for all the constraints that women still prefer not to move, coupled with the fear, do not fall.

And you do miracles in your family as a producer and journalist, his family respects you, you are valued or the saying "holy miracle from home does not" exist in your view?

Deborah Guiot - In my house ... but miracles do rsrsrs My daughter participates in almost all my work, ideas, creations and suggestions. She was educated in the most authentic hard-line journalism - is a voracious reader, writes with clarity and rightness, and studied languages ​​- and the purity of artistic expression. The father, the late journalist Roberto Fecury, lay with her, to two years, on the floor, listen to Gershwin and enjoy the catalogs of the Louvre. Also there are several professional projects I develop with my brother, who trusts only in those areas if I'm ahead. And I'm the executive producer of the Caye.

And the ECAD and the closure of bars in Brasilia by Ibram, the Association of Musicians, the Musicians' Union, give your opinion on these issues?

Deborah Guiot - absolutely Affairs rsrsrs ... For many parts, then. As for the ECAD does not work. And the requirement of the Companies is a disaster. The review of the LDA finally entered into discussion Interministerial Group, that a draft agreement is sent to the Civil House, which in turn will send a proposal of a Bill to Congress. Organised civil society has sought to participate in the development of APL, a process conducted by MinC up in a very democratic. I could give some suggestions, through the Network for Reform of the Copyright Act. And I think everyone involved, and that in some way be impacted by its applicability, especially composers, should participate more actively. There are very powerful and interessadíssimos sectors in question, and will continue taking advantage if the protagonists - the authors - not enough to be heard.
About the closure of bars by Ibram. I think all the cities they live these waves: the laws exist, but the compliance review by the coming and going. In my opinion, all laws are there to be met. The specific case of closure because of bars, including live music, you should consider various aspects. And here I'll try just to enumerate perhaps serve as a basis for a more elaborate discussion on the subject by organized groups, not only musicians, but also business owners, employees of these establishments, in short, a whole network of people involved in the process, which includes citizens.
. Brasilia, although created by President bossa nova, considered in its urban design, the ability to listen to parents when the children were playing in recreational areas of residential blocks, all built on stilts. The sites for business, leisure and services that serve the housing blocks were built next to each one of them. All spaces are large, open, providing a sense of vastness. That is, the acoustics are from hell .... everyone hears everything all over the place. Today, I live in the Southwest, cabin and listen to all the major events next to the stadium, on axis, as if they were in my room.
. Citizens of Brasilia is clear that the right to have peace and tranquility of a good nights sleep. However, we also need to consider the fact that they live in a city atypical, with the characteristics described above. If Brasilia is so wonderful for their spaces, it also reverberates. And here do not give to be simply applied the same acceptable noise levels of any other cities. Here, you talked in the parking lot of the block, all the court hearing. In Rio de Janeiro, for example, who lives across from the streets, is desperate with the brakes on the bus stops in a city where public transportation bubbles day and night.
. All cities and their inhabitants have right of expression, including artistic, full, undefined, everywhere ... especially at night and places of meetings, exchanges of ideas, chat to chat .. do part of the development corporation that promotes interpersonal. And no way to determine specific locations for this to occur. If Brasilia was planned at the end of 50 years, today set the tone we who live here.
. The establishments, like bars and such, instead must invest in appropriate acoustic treatment which enables not only the musical expression, as the comfort of visitors. I'm not saying all holed up in basements or in places completely closed. These have the advantage of being able to extend the hours of live performances in addition to the 22 or 23 hours and receive a variety of styles. Nor am I referring to the clubs, these, even with urgent need for sound insulation. But it is important that sense of the city with free expression, and simple measures can be adopted, such as suit the type of music will be performed live the type of establishment. Surely the noise level caused by the concentration of people talking in various tones of voices in the bars, is much larger than the musical notes issued by a show of bossa nova, for example. To the extent that the live music blend with the environment, fewer people speak. Of course, not all, because there are those whose need is to talk. But, greatly decreases the noise of voices. It is clear that in more open environments and near residential areas can not really put a rock concert or blues, with screaming guitars, or pagode, axé, finally, styles that require strong presence of percussion.
. And the consideration of the professionals - workers involved, is essential in the development and adoption of the law, and in its application. In the end, if the city loses the threat to live music and people idem, who loses most with this are the musicians, who need places to practice his profession and earn a living, and those who work in establishments , especially the waiters. Last year we conducted two public hearings on CLDF to discuss the issue, both with no results or follow-up actions. After all, dealing with it is not just a convenient electoral point of view. But a sensible solution on the subject has to be found. The ban, which now has become more fierce here in Brazil, is now affecting the segment in cities such as San Sebastián and Vicente Pires since 2010.
With respect to the OMB and the Musicians' Union of Mexico City I will not arrogate to give any opinion, for not being in class. I have my beliefs here, even the fruit of my professional activity as a producer. The latter, the union followed the scandal subtracting treasury, including the public, promoted by the leaders. But my respect for musicians who are making up this category is greater. Just leave a reminder, as an economist and now, today, informality does not lead anyone anywhere.

Something was pending would like to put this interview?

Deborah Guiot - No. .. this was a true Sabbath rsrsrsrsrs ... Thanks for the invitation to the interview and congratulations for your questions, all very relevant. Success always to the blog, spaces for the expression of ideas are very important. And using a phrase Taiguara, I say goodbye, "Culture is a weapon of liberation."

Anand Rao
Editor's Blog Music in Detail

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